domingo, 21 de abril de 2013

Uma Parte da Ressaca

   De repente meu nojo pela situação foi direto para o meu estômago. Comecei a sentir meu estômago embrulhar e eu não consegui impedir que o vômito passasse da minha garganta. E enquanto Diego beijava meu pescoço, fui obrigada a virar para o lado e simplesmente vomitar. Vomitei tudo o que podia, inclusive minha dignidade. Lembro de sentir culpa, não por atrapalhar a festinha do cara, mas por fazer sujeira na cama do Renato. Depois disso só me lembro de receber uma pancada forte no ombro. E acho que adormeci. E o mundo parou para mim naquele momento.
   Quando acordei, pisquei várias vezes e pude ver que já era dia. O sol estava radiante lá fora, e lá estava eu, em baixo de um edredom, em uma cama que não era a minha, e com uma ressaca moral que não me deixava esquecer a vergonha. Eu não estava conseguindo me mexer. Estava fraca de mais para encarar o mundo, fiquei olhando para o teto como se fosse encontrar alguma força sobrenatural para sair dali. Mas a única coisa que fiz foi mudar de posição. Percebi que não estava usando minhas roupas. Me sentei em um impulso e logo lembrei que alguém devia ter me dado um banho. "Bianca", pensei. Mas ainda sentindo minha fraqueza, deitei de novo e por lá fiquei.
   Mais tarde, alguém bateu na porta e eu grunhi como um sinal de "pode entrar" e então a pessoa entrou. Era Bianca, trazendo um café forte para mim. "Dizem que cura ressaca" foi tudo o que ela me disse. Depois me contou que ela e os meninos tinham dormido lá também. Fiquei feliz com aquilo.
   Quando saí da cama, percebi que estava vestindo uma camiseta grande, masculina. Era do Renato. Foi ele quem me deu banho. Segundo Bianca, ele era o único sóbrio. Na verdade ele é sempre o único sóbrio quando as festinhas são na casa dele. Normal. Deixei Bianca arrumando as coisas e fui tomar uma ducha gelada. Ao menos o frio tirava o foco do meu real sofrimento. Na verdade, fiquei rezando para que Renato não tivesse reparado nas minhas malditas estrias. Será que ele me viu totalmente pelada? Fiquei imaginando várias coisas terríveis que Renato pudesse ter pensado sobre mim.
   Quando terminei, fui agradecê-lo. Já que além de me dar banho, como se não fosse o bastante eu ter sujado tudo, ele me deixou dormir na própria cama e ainda trocou a roupa de cama para que eu dormisse em um lugar mais decente. Achei fofo e agradeci o máximo que pude. Mas ele não fez uma cara muito boa. Não entendi. Dei de ombros e ignorei aquilo.
   Os meninos estavam com cara de ressaca, mas não piores do que eu. Felipe, que não perde tempo, chegou do meu lado e já foi me oferecendo um cigarro. Fiz vômito só de pensar. Só pelo sorrisinho percebi o que era. Maconha. Chico estava jogado no sofá tocando algumas notas no violão. E Bianca estava do seu lado, cantarolando alguma coisa.
   Pedi para agilizarmos a arrumação. Queria chegar logo em Santos Dumont, ir para casa e dormir. Queria dormir o resto da vida se fosse possível. Mas nesse caso, só morrendo. E aquilo me parecia uma boa idéia.

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