domingo, 21 de abril de 2013

A Outra Parte da Ressaca

   Quando chegamos em Santos Dumont, já era fim de tarde do sábado. Descemos na rodoviária, passamos pela avenida e cada um foi para sua casa. Quando cheguei no meu querido lar, doce lar, fui correndo em direção ao meu quarto. Mas Mátis não estava querendo me deixar descansar. Como irmão mais velho, se via no direito de bancar meu pai. O que eu não permitia muito!
   E lá estava ele me interrogando e me ameaçando de vários castigos. Claro, nenhum castigo entraria em vigor. Mas eu estava cansada de mais para discutir qualquer coisa, e inventei uma linda história, apostando na minha paz naquele momento. O que não deu certo, então o larguei falando sozinho e fui para o meu quarto, batendo a porta com todas as forças que me restavam.
   Por fim, chorei. Estava me sentindo péssima. E comecei a entender o que quase aconteceu naquela noite de sexta feira. Eu quase fui estuprada. Afinal de contas, sexo sem consentimento é estupro. E eu se não tivesse vomitado, provavelmente, estaria agora em alguma delegacia denunciando aquele ser desprezível. E então comecei a sentir muito ódio. Eu queria matar Diego! Matar Bianca. Matar Renato, Francisco e Felipe. Onde eles estavam quando eu mais precisava? Ódio! Muito ódio!
   Tive a brilhante idéia de ligar para Diego. Depois de alguns segundos, uma voz feminina diz "alô". Aposto que era uma vítima que tinha dado certo. Aquela mulher não vomitou na hora H. Óbvio que não! E pela voz, deduzi que a noite tinha sido boa. E então me dei conta que não era mais manhã. Já era fim de tarde. Aquele filho da puta tinha passado o dia com uma vagabunda qualquer. Mais ódio!
   E então me peguei sentindo ciúmes do canalha. Ou talvez orgulho ferido. Foi tão fácil para ele achar outra mulher! E depois de todas essas conclusões, a tal voz estava quase desligando o telefone, quando finalmente, consegui dizer um "alô" meio estremecido.
   - Quem está falando? - Agora a voz do outro lado passou de sensual para espantada.
   - Posso falar com o Diego? - Perguntei.
   - Querida, ele agora não tem tempo não.
   Eu ia começar uma discussão com a vagabunda, mas percebi que eu iria me rebaixar muito. E a ressaca moral só iria aumentar. Bati o telefone. Eu não podia ficar em casa.
   Aproveitei que minha mãe não estava no momento e driblei meu irmão. Saí rumo ao beco da salvação. Eu sabia o que eu precisava naquele momento.
   Eu estava completamente infeliz. Minha cabeça doía, meu coração estava apertado, como se alguém estivesse esmagando-o. E parecia que se eu abrisse a boca, eu iria soltar um grito infinito, que ecoaria por todo o planeta. E então todos me enxergariam. Saí pela rua aos prantos. Tentei segurar ao máximo, juro que tentei. Mas as lágrimas teimavam em cair. Comecei a tremer.
   Avistei o Beco da Salvação. Esse era o nome que os marginais deram ao beco mais imundo e louco de Santos Dumont. Mas era lá que achávamos nossa salvação. Não era a nossa cura, mas com certeza, era a cura para a nossa infelicidade momentânea.

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